quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Governo ou departamento comercial?

Ao ver José Sócrates, em plena cimeira ibero americana, promovendo as qualidades do computador “Magalhães”, recorrendo a métodos patéticos, atávicos e utilizados por um qualquer feirante medieval, não só criou em mim uma sensação de vergonha patriótica, como sobretudo, me conduziu a estabelecer uma curta reflexão sobre o papel de um governo num regime democrático, no que a esta matéria diz respeito.
Com efeito, sendo o primeiro ministro o responsável maior pela política do Estado, quer internamente, quer externamente, pode ou deve o governo na pessoa do próprio, ou mesmo na pessoa de um qualquer ministro, prestar-se à função de vendedor, hoje diz-se técnico-comercial, por muito importante que seja o bem ou o serviço em questão para o desenvolvimento económico do país?
Não tenho dúvidas se o computador Magalhães for comprado por países como o Brasil, Argentina, Chile e outros países da América do sul, cuja a população juvenil é bastante considerável, que isso será positivo para a nossa balança Comercial Externa que desde há muitos anos apresenta saldos negativos, e actualmente com tendência para agravar.
Acontece porém que, a diplomacia económica como novel conceito apareceu para afastar de vez a diplomacia clássica, considerada por muitos como pouco exigente e pouco adaptada para um mundo cada vez mais globalizado, no qual os países para se desenvolverem, economicamente, precisam de criar canais comerciais para colocarem os bens e serviços por cada um produzidos. Este caminho é inexorável e é imperioso que se faça. Em Portugal está a ser levado acabo pela AICEP – Agência Internacional para o Comércio Externo de Portugal – liderada pelo dr. Basílio Horta e tem tido alguns resultados.
Porém, uma coisa é uma agência para o investimento, mesmo que seja uma entidade de cariz público, ter como principal competência a promoção do investimento externo em colaboração com os promotores privados, outra coisa, bem diferente, é em minha opinião, o governo chamar a si, aparentemente, por mediatismo encapotado, a promoção de produtos portugueses como é o exemplo do computador Magalhães. Mesmo que, estas acções tenham algum sucesso nas democracias putativas da América Sul, refiro-me, designadamente, à Venezuela.
Na verdade, o entendimento que legitima e aconselha os governos a levar a cabo a promoção dos bens e serviços das empresas nacionais, porventura não atendeu ou não quis atender aos perigos desta prática. A existência de um lastro de suspeições, de conflito de interesses é uma possibilidade e sendo uma hipótese deverá ser afastada com o recurso às entidades competentes para o efeito, por um lado e, está pouco claro a escolha dos critérios objectivos que determinam quais os bens e serviços produzidos em Portugal a eleger, por outro.
Embora o governo português possa estar com a melhor das intenções na promoção do computador Magalhães, deve deixar o comando das operações, no que concerne à promoção e divulgação, para quem está por lei apto para o efeito, não só se livrará das suspeições e interpretações truncadas, como, também, evitará a chacota e a rizada geral. Porque aquele triste e deprimente espectáculo proporcionado pelo primeiro-ministro, é de todo a evitar.

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