terça-feira, 13 de janeiro de 2009

PAPAS DEPOIS DE ALMOÇO

Li com alguma atenção o artigo escrito pelo presidente Jorge Sampaio, publicado no Diário de Noticias na última segunda feira. O artigo é muito extenso, ocupa duas páginas do dito jornal. Concordo com a generalidade das reflexões aí contidas, sobretudo, naquela que sugere a aproximação do poder politico á sociedade, porém, gostava, se me é permitido, fazer, alguns comentários e partilhá-los com os ouvintes e as ouvintes da Rádio Diana.
Na verdade, a geração do Jorge Sampaio foi confrontada e sobressaltada com a guerra colonial e com um regime ditatorial que convivia mal com a mudança e com a liberdade, embora, eminentemente, rural e provinciano. Viver em ditadura é coisa que a minha geração não sabe nem conhece e, acrescento eu, felizmente. No entanto, foi a geração do Dr. Sampaio que após a revolução ascendeu ao poder político, teve, por isso, todas as oportunidades de levar a cabo as reformas necessárias para obtermos um país moderno, justo e, em que todos os cidadãos possam ver reconhecido o seu trabalho.
Decorridos mais de trinta anos sobre a revolução de Abril, será que a geração do dr. Sampaio tomou as decisões mais acertadas: preparou a sociedade portuguesa para enfrentar os desafios apresentados pela globalização? Reformou o Estado preparando-o e dotando-o dos meios humanos e físicos mais adequados para enfrentar um mundo cada vez mais complexo e competitivo? São perguntas que se me colocaram ao ler o aludido artigo.
Face ao panorama nacional e atentos os números publicados e divulgados pelas entidades internacionais e nacionais que, estudam e avaliam os desempenho económico dos países, só podemos concluir que pouco foi feito por esta geração em prole do desenvolvimento do nosso país, quer economicamente, quer socialmente.
Com efeito, para os incrédulos, reproduzo aqui alguns números: a dívida pública que, desde de 1996, vem aumentando. Está, actualmente, acima dos 90% do PIB. A carga fiscal é mais de 40% do rendimento produzido em Portugal. O abandono escolar é dos mais elevados da Europa. Absentismo é escandaloso. A corrupção é indecorosa, é das mais elevadas da Europa.
O que é que a geração do dr. Sampaio irá deixar de positivo às gerações vindouras, para além da adesão à união europeia e a conquista de algumas liberdades? Digo algumas, porque muitas são aparentes e virtuais. Na minha opinião, a geração que me antecedeu, mais uma vez, desperdiçou uma oportunidade de ouro para realizar as reformas que o país há muito carece: primeiro - colocar a educação ao serviço dos alunos e das famílias, em vez de estar ao serviço dos professores e dos seus representantes sindicais; segundo - colocar a saúde ao serviço dos utentes, em vez de estar ao serviço dos médicos e dos seus representantes. Terceiro - colocar a justiça ao serviço da comunidade, torná-la mais célere, porém, neste sector, a legislação deve ser menos e mais clara. Por último, uma administração pública virada para o cidadão, menos burocrática e menos dada a práticas pouco claras.
Posto isto, a geração do dr. Sampaio, em geral, e o próprio em especial, por muito boas reflexões que façam, por muito boas ideias que tenham para o país e para o mundo, não têm legitimidade, agora a que as coisas bateram lá bem no fundo, de acharem que são solução ou que têm solução para o problema, uma vez que, uns mais outros menos, face aos cargos que ocuparam, pouco ou nada fizeram para constituírem uma sociedade esclarecida e exigente, como pouco ou nada contribuíram para termos uma economia estruturalmente forte capaz de superar as crises sem grandes consequências sociais. A propósito deste último aspecto, há economistas que prevêem que a retoma económica só chegará a Portugal em 2011, quando as previsões feitas para os países mais bem preparados, é apontado o final de 2009. Dois anos de diferença, portanto!

Sem comentários: