segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

UMA QUESTÃO DE DIGNIDADE

A reforma da educação levada a cabo pelo actual governo é pertinente, é necessária, é justa, é adequada? Para um leigo na matéria e dotado de bom senso, só pode concluir que é indispensável, pois a avaliação em qualquer sector da actividade, quer ela seja politica, económica ou cultural é fundamental para determinar quem são os capazes e excluir os incapazes. Não me interessa discutir se o modelo é bom ou pode ser melhorado, todavia, as coisas como estão, estão mal.
Na verdade, só assim poderemos evoluir, avançar e arranjar condições para ombrear com os cidadãos dos outros estados membros. É com critérios de exigência, rigor e competência que, conseguiremos ter docentes idóneos, para garantir gerações mais capazes e mais audazes do que aquelas que até agora conseguimos fazer. Porque até agora e, embora algumas coisa por nós feitas, e escuso-me a dar aqui exemplos por de mais conhecidos por todos, pouco ou nada de relevante fizemos para a evolução da nossa civilização e do mundo em geral.
É chocante e dramático para um país ter de conviver com o analfabetismo, por tudo aquilo de mau que o fenómeno representa: atraso económico, desemprego e exclusão social. Portugal, segundo fontes oficiais, tem o maior número de analfabetos da União europeia , um cidadão português em dez é analfabeto. No Alentejo, segundo a mesma fonte, o problema é mais dramático, atinge os 35% de analfabetos. Sou alentejano, não posso aceitar esta situação, não posso mesmo. Sinto-me envergonhado com este estado de coisas, e somos todos responsáveis, cidadãos mais letrados, poder politico central e poder politico local.
O próximo ano realizar-se-ão várias eleições, é sem dúvida alguma, para todos, cidadãos em geral, forças partidárias e Presidente da República, uma questão a debater, mas através de um debate transversal no sentido estrito da palavra, envolvendo todos, e com o necessário e imprescindível contributo dos especialistas na matéria, embora, aparentemente, serem poucos os existentes por cá, a avaliar pela situação e pelo número daqueles que precisam de apoio e acompanhamento para conseguirem deixarem de pertencerem à coluna que constitui esta chaga, que consiste não saberem ler nem escrever.
Apesar de vivermos uma época de grande indefinição motivada pela crise financeira global, e muitos esforços financeiros serão necessários de fazer para atenuar as consequências da crise, porém, internamente, temos que erradicar esta praga social de uma vez por todas, e deverá ser um desiderato a consagrar nos programas políticos a apresentar às próximas eleições legislativas, espero que Partido Social Democrata assim o faça.
Em todo caso, sei que ainda existe um sentimento em alguns portugueses, por muito residual que seja, de que a existência de um povo iletrado, quanto melhor, pois não pensa, logo, não se questiona, por conseguinte não chateia, nem reivindica. Nos anos quarenta, do século passado, em plena assembleia nacional, quando se discutia o ensino obrigatório, se deveria ser três ou quatros anos, no resto da Europa já era de oito anos, houve quem defendesse três anos com aquela fundamentação.
Por isso, é necessário de uma vez por todas acabar com esta mentalidade, repito, apesar de residual, mas ainda existe, e que o actual regime não conseguiu por um ponto final, apesar de já terem passado mais de 30 anos. Se quisermos diminuir assimetrias, sociais, económicas e culturais entre o interior e o litoral é pela alfabetização que devíamos começar. De contrário, por muitos Magalhães que o primeiro ministro possa e goste de distribuir, haverá sempre, nossos concidadãos, a viver no limiar e abaixo daquilo que é digno. Isto é imoral e inaceitável, eu pelo menos não me conformo.

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