terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A GRÉCIA E O EXEMPLO

Ao observar os acontecimentos que sucedem na Grécia, pátria da democracia, em que milhares de jovens andam a espalhar o terror, a destruírem tudo por onde passam e num confronto permanente com as forças de segurança, assoma-se às minhas meninges a seguinte reflexão: será que no meu país algo de semelhante poderá suceder?
Antes de encontrar uma resposta, devo proceder ao seguinte exercício no sentido de encontrar uma fundamentação plausível para a minha pergunta: procurar se existem algumas similitudes entre a realidade grega e realidade Lusa.
Na verdade, os gregos, aqueles que não pertencem a uma determinada oligarquia, corporação ou partido político, vivem há muito anos com grandes dificuldades económicas, sobretudo os jovens, entre os vinte cinco e os quarenta anos. Estes vivem com a cabeça no cepo, esperando a todo o momento que a “espada” do trabalho precário os “decepe”, colocando-os no desemprego de longa duração.
Por outro lado, existe um sentimento generalizado de desconfiança do poder politico, sobretudo na legitimidade dos eleitos, pelo facto de estarem a soldo exclusivo dos interesses partidários e de grupos económicos que parasitam e gravitam o orçamento público. A justiça é caótica, o sistema de saúde e de educação não destoam.
Com efeito, alguém de bom senso e intelectualmente honesto, sendo português, vivendo e trabalhando cá, não pode ou pelo menos não deve chegar a outra conclusão de que a realidade grega é muito, mesmo muito parecida com a nossa.
Se não vejamos: Temos a educação num verdadeiro tumulto, ninguém se entende. Os sindicatos não aceitam nenhuma proposta do ministério da educação relativa ao estatuto da carreira docente e da avaliação dos professores. Os alunos e as famílias são os principais prejudicados com este impasse.
Por outro lado, a justiça não funciona, os casos prolongam-se eternamente nos corredores, secções e juízos dos tribunais. Há vozes avalizadas que imputam as responsabilidades desta situação aos agentes judiciários, ao ordenamento jurídico vigente, ao poder politico, todavia, ao que parece, ninguém tem coragem para proceder às reformas necessárias para por fim a este clima de mau estar e de suspeição permanente.
O poder politico quase, diariamente, vem noticiado nos media pelas piores razões, alegadamente, alguns dos seus protagonistas ou ex protagonistas, não passam de pessoas cujo objectivo é a promoção profissional ou servirem-se do lugar público que ocupam para defenderem interesses do aparelho partidário a que pertencem ou de grupos empresarias ligados ao betão (obras públicas) e ligados à banca. Exemplo disto, são os últimos acontecimentos ligados ao BPN e BPP e, no que concerne ao betão, tivemos as contratações de ex dirigentes partidários para os seus quadros. Isto não é promiscuidade? Então o que é? Boa coisa não é certamente.
Pelo que, de duas uma, ou mantemo-nos na expectativa esperando que melhores dias apareçam e o clima de mau estar em que vivemos desapareça, assim a sorte nos proteja, não me parece a melhor forma de actuar, pois, temos o exemplo grego e não tem sido o melhor. Ou, então, o governo tem que meter as mãos na massa, e acabar ou pelos menos atenuar com a situação dramática daqueles que querem trabalhar e não podem ou então recebem salários miseráveis, muitos deles com qualificações superiores. Por isso, tem de ter a coragem, não pode ficar ofuscado com o ano eleitoral que se avizinha, e resolver este problema mesmo que para isso tenha que suprir privilégios de algumas corporações muito próximas do partido socialista. É a prioridade das prioridades.

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